Os recursos direcionados para
esse encontro mundial e toda mobilização para torná-lo um sucesso, era a torre
que as lideranças mundiais pretendiam construir como propaganda de uma nova
humanidade. No entanto, já deu para perceber a Babel que esse encontro está se
tornando. De um lado ambientalistas e Ong's reclamam de um documento apático,
sem avanços, sem compromissos concretos a respeito das metas e do financiamento
para um desenvolvimento sustentável. Do outro lado líderes mundiais, políticos
preocupados com a estabilidade de suas economias que, diga-se de passagem,
sobrevivem da insustentabilidade provocada pela exploração sem consciência dos
recursos naturais do planeta, estão sorrindo diante dos flash's mundiais como
quem diz: missão cumprida.
Deixemos isso mais para frente,
afirma o documento. Uma vez mais a nefasta lógica do capital consegue fazer
escorregar pelos dedos essa ímpar oportunidade de colocarmos a vida acima da
acumulação de bens e do lucro. De garantirmos um planeta para as gerações
futuras, das quais nossos filhos e os filhos dos nossos filhos farão parte. De
ensinarmos para eles a grande lição e a mais importantes de todas, a saber, de
que a vida é um valor supremo e que nada, absolutamente nada, deve postular
estar acima ou atentar contra ela sem a nossa radical oposição e
resistência.
Esperávamos um pentecoste, um
congraçamento universal, a comunhão de nossa aldeia planetária. Vários idiomas
do mundo afirmando a severidade da mesma necessidade: de deixar a vida ser vida
e seguir seu curso. De adaptarmos nossos sistemas e políticas econômicas ao
imperativo da sobrevivência e do respeito ao protagonismo da realidade
ambiental e de sua inconteste importância para todo existir. No entanto, somos
testemunhas oculares de discursos e de um documento mais preocupado com um tipo
de diplomacia que não ofenda os interesses do capital, do que aquele
compromisso diplomático que sente chamado e vocacionado a brandir a vida como
símbolo e sentido maior de todos os povos da terra.
Os protestos que vimos, a marcha
dos insatisfeitos, a turba formada por aqueles que dizem sim a vida e ao modelo
de desenvolvimento que se debruce reverenciosamente a esse valor, devem
continuar. Cada povo, de cada país, como consciência telúrica, como parte
consciente de toda vida no planeta, deve deixar que esse mesmo planeta e toda
vida que nela há se expresse através de suas vozes, seus idiomas, seus
dialetos, como um vento que sopre sobre toda terra, mostrando que o
insustentável já há muito perdeu sua razão de ser.
Glauco
Kaizer
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