sábado, 10 de outubro de 2009

Deus Toma Partido

Salmos 23


Bem , irmãos, vemos aqui um texto de excepcional beleza, expresso de maneira muito simples pelo salmista Davi, no entanto profundamente rico. Duas metáforas, pastor e hospedeiro, que resumem de maneira singela a presença consoladora e libertadora de Deus na história da humanidade.
Levando em conta o momento atual que vivemos: as ameaças que chegam de todos os cantos da terra; as doenças, o sofrimento; o medo de seqüestros; os ataques terroristas; o iminente fim da espécie humana; a multiplicação da violência; medo de guerras; a fome que mata milhares de pessoas em todo mundo; a banalização da vida etc, essa mensagem deixada nos Salmos é atualizada em cada um de nós e nos dá força para prosseguir, superando cada um desses medos na fé confortadora de que Deus é presença consoladora e libertadora, pois Ele é...


1º - O pastor e guia na difícil caminhada (1-4)

Antes de tudo, não podemos confundir esse pastor com nenhum mercenário ou qualquer outra figura que não corresponda a sua verdadeira imagem. O salmista faz questão de iniciar seu salmo com uma profissão de fé: “O Senhor é o meu pastor...”. Significa dizer que Deus, o Senhor, é o arquétipo do verdadeiro pastor. E é nas mãos dele que colocamos confiantemente nossas vidas.
Há períodos em que os rebanhos precisam ser deslocados para outra região pela necessidade de novos pastos. Sendo assim a figura do pastor, sobretudo neste momento, ganha um profundo significado. Ele é aquele quem divide com as ovelhas as agruras da caminhada: sente fome, sede, se expõe ao perigo, e a todo momento, não obstante quaisquer ameaças, se alista com suas amadas ovelhas na aventura da vida. Essa imagem de pastoreio se inscreve em nossa experiência com o Deus consolador/libertador.
Segundo o salmista, o Senhor, o bom pastor, sabe onde estão as pastagens verdejantes e é para lá que nos conduz, mostrando-nos o caminho. Ora, e só pode ser verdejante aquilo que representa o que é bom e que traz paz. Quem nunca contemplou pastagens do interior e não se sentiu em paz?
As ovelhas, como as pessoas, podem eventualmente passar fome. Mas não resistem a sede sem definhar e morrer. O pastor que demorasse encontrar os pastos verdejantes colocava as vidas de suas ovelhas em perigo. Sem água não resistiriam muito tempo no profundo calor do deserto. Era preciso conhecer muito bem as trilhas ou caminhos, caso contrário o rebanho todo se perderia.. Portanto, o salmista afirma que Deus conhece os locais de fonte de água e de vida e é para lá que nos conduz pelo Seu Espírito. E a tranqüilidade dessas águas nos fará descansar em Sua doce presença. Essas águas representam vida para todos nós que nos deixamos apascentar por esse terno pastor.
Ele é aquele que, cadencialmente, através das batidas do seu cajado, orienta à caminhada. E é justamente aqui, irmãos, que se encontra a o fio condutor dessa relação: a radicalidade da caminhada. Pois todo caminhar é experiência radical. Nessa caminhada dos que dividem juntos a experiência da vida, todo solo pisado é sagrado. Portanto, a escuridão e o vale tenebroso, que podem representar um momento candente em nossa experiência existencial, são superados pela consoladora presença desse pastor, que nos liberta dos medos que emergem da caminhada e que tentam amordaçar a alegria de viver.
Seja lá qual for drama que você esteja vivendo direta ou indiretamente. Saiba, porém, que o Senhor-pastor conhece os caminhos secretos para os prados verdejantes e para as fontes cristalinas de água. Não importa o quão faminto ou sequioso esteja, suas pastagens e sua fonte d’água são sempre suficientes.
Deus é presença consoladora e libertadora, pois Ele é...

2º - O generoso hospedeiro (5-6)

Seja após as intempéries da caminhada, ou até mesmo na angustia de uma fuga, Deus é presença consoladora e libertadora porque se oferece como anfitrião, acolhendo-nos como somos. Não nos pergunta de onde viemos ou o porquê da razão de nossa fuga; nem mesmo quem são nossos perseguidores. Ele simplesmente nos acolhe com todo seu afeto. Nos refugia no interior de sua morada e concede-nos um lugar à sua mesa.
A hospitalidade do Senhor-hospedeiro revela a essencialidade dessa dimensão solidária, que por sua vez é o alicerce basilar das relações humanas. Todos experimentamos na carne a necessidade de sentirmo-nos acolhidos e refugiados no útero de nossas relações. No entanto, a hospitalidade do Senhor também revela um mínimo espiritual, que é a capacidade de acolher, de sermos solidários, cooperativos e capazes de conviver, sobretudo, com os diferentes. Na verdade a hospitalidade é a primeira virtude da convivência, pois suas implicações orientam a criação de um espaço onde outro sinta-se ele mesmo.
Mas não pára por aí. Após acolhido, uma mesa é preparada para o hóspede. E esse ato comensal reforça os laços de mútua confiança e comunhão. O sentar-se à mesa traz a tona a dimensão da igualdade e da concórdia. Todas as contradições, preconceitos, ou qualquer outro motivo para o não congraçamento, são inibidas e apagadas quando dividimos o pão e a presença do outro.
Deus nos acolhe assim como somos: seres de contradições e marcados pela ambigüidade. Além disso, Ele nos perfuma com suas essências de vida; devolve-nos a alegria; enche o nosso cálice de esperança de tal sorte que até transborda para todos os lados. E se isso já não fosse o bastante, Ele coloca duas escoltas, que se chamam bondade e misericórdia, i. e., sua terna e doce graça como certeza de seu cuidado.
Com efeito, você é o convidado especial desse doce e comensal hospedeiro para tomar parte dessa mesa, que retrata a imagem da profusão da graça consoladora e libertadora. E, sentado à mesa, aqueles que buscam intimida-lo, como também você, perceberão que a completude desse momento só se torna possível quando todos sentam juntos e dividem entre si o pão da paz e fraternidade.
A graça só continua graça enquanto repartida e compartilhada. O banquete do hospedeiro não é um banquete de exceções. Você precisa perceber por baixo desse lençol metafórico: o banquete do hospedeiro na presença dos inimigos não significa o desdém a nenhuma casta. No entanto, é também convite àqueles a se tornaram amigos por meio da construção de laços de ternura e afeto.

Conclusão

Deus é presença consoladora e libertadora para a alma aflita, sim!
Experimentamos o deserto, o caminho perigoso, as ameaças dos inimigos, o vale tenebroso e as agruras da vida. Entretanto, no meio desse profundo desamparo humano, desses aparentes desencontros de nossa existência, Deus emerge em nossa experiência histórica na imagem do pastor e do hospedeiro. Ele nos guia por suas veredas, sacia nossa sede em suas fontes cristalinas e aplaca nossa fome em suas pastagens. E no enfrentamento do vale tenebroso, Ele nos diz: “Não tema mal nenhum. Eu estou contigo”.
Ele também é o hospedeiro que oferece além de suas posses ou provisões. Ele doa sua própria vida nessa relação comunitária, nesse encontro que humaniza e faz viver. E senta conosco como quem não dá a mínima às tentações do preconceito. Ele não orça as diferenças, mas acolhe gentilmente a cada um de nós.
Nessas passagens os dramas da vida não são apagados, nem tampouco minimizados. Eles continuam sendo dramas e até mesmo elementos trágicos da existência. Contudo, o salmista ressalta que, a despeito de todo drama vivido; de toda contradição experimentada, Deus é presença, no sentido lato do termo, consoladora e libertadora para a alma aflita.
Que alívio e libertação! Podemos continuar a respirar e continuar a viver.
Glauco Kaizer

2 comentários:

  1. Garoto vc tá fogo em, meus parabéns.

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  2. Deus nos criou com "razão" ou "consciência". Ele nos deu o poder de escolhermos o que quisermos porque temos a "razão" que nos mostra o que pode ou não ser certo. Por isso, toda sabedoria é divina. E por ser divina, deveríamos pensar divinamente. Mas o que é pensar divinamente? O que é ter a mente de cristo? O que é ser "livre"? O que somos para nós mesmos para que possamos afirmar que somos para Cristo? Deus é bom em sua plenitude de amor que respeita e compreende nossa individualidade, debilidades, sentimento e emoções e por isso nos deu a "razão" para distingüirmos todas as coisas e reter o que for realmente bom. Witgeinstein dizia que nosso mundo é do tamanho de nossa linguagem. O conhecimento,é o poder da liberdade da mente e do espírito. A palavra de Deus nos atribui um vasto conhecimento para aprendermos a viver não apenas nos sentidos religiosos,porrém no sentido humanista que Jesus pregou ensinando amarmos uns aos outros, ou seja, sejam amigos uns dos outros, ajudando-os uns aos outros em tudo. Ele nos ensinou o amor que transcede emoções e palavras, amor de prática e convivência. Gostaria que todos nós aprendêssemos isso diariamente e fico feliz por existir um blog dando "pontapé" inicial para a expansão do evangélho de Cristo.
    Glauco, quero que deus te ilumine mais e mais para que seus texto não fiquem presos apenas nas redes virtuais, mas que sejam publicados em livros, jornais, etc, e principalmente fiquem marcados nos corações e nas mentes daqueles que de alguma forma querem amadurecer seus conhecimentos e valores culturais, espirituais e individuais.
    Abraços!!!
    Junnior Fugazzy

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