segunda-feira, 23 de novembro de 2009

De Deus nada se esconde


De Deus nada se esconde. Sua presença é continua e até onde ele suspostamente não esteja, lá está Ele sempre cheio de graça e beleza. Dormimos todos em sua morada. O telhado de sua varanda, salpicada de brilhos e de grandes luzeiros, ora intensas com um sorriso largo que se desprende sem pretensão, ora sua suave tal qual aquele que sorri com os brilhos dos olhos apenas. Deus sabe sem saber. Isso porque a respeito de toda sua sabedoria a nosso respeito, das virtudes mais valiosas até das falhas mais marginais, nos aguarda na estrada do arrependimento, sempre com a grandeza de sua fiel misericórdia que não faz caso do que fizemos e que do erro só sabe dizer: vai e não peques mais.
Entretanto o homem, ainda refém de sua tentação de querer ser Deus, tenta todos os dias comer daquele fruto que lhe revelará todos os saberes. Das minúcias que lhes serão descortinadas, para, então, ser igual ao eterno Deus no saber todas as coisas. E sabedor de todas as coisas, nada lhe ficará encoberto. Conhecer as origens e o funcionamento mais íntimo de cada coisa e cada ser.
Pensa o homem ser necessário apenas ter esse olhar do qual nada se lhe escapa, para então achar-se Deus ou pelos menos mais perto de sê-lo. Só uma coisa... ele não possui a sensibilidade da participação amorosa do ser Deus na realidade de toda a vida, que mesmo sabendo que uma fruta de determinada árvore não é boa, continuando tendo essa árvore com uma boa árvore; que sabendo da samaritana seus cinco maridos, fez menos caso de seu delito e mais lhe se ofertou a participação em sua missão. Sem contar que testemunha silenciosamente o saber de nossos delitos no recôndito do nosso coração sem que ninguém o perceba a não ser aquele que o ouve dentro de si mesmo. Não precisa de palco, tampouco de platéia. Para ele só o coração basta. É lá que seu falar ganha nossa confiança, por sabermos que sabe tudo sobre nós e ainda assim nos protege e nos aperfeiçoa por seu amor.
Enfim, todo saber sem misericórdia não é verdadeiro saber e perde sua razão de ser. Pois se no caminho das visões que temos e quando delas dizemos, Deus não se faz perceber, ficando apenas a perplexidade do momento a acontecer, não passa apenas do não saber que descontrolado pelo tentar conhecer, conhece menos do que diz.
Deus fala como quem participa, cheio de amor e misericórdia por dividir a ciência dos nossos erros, mas que propõe o perdão e a concórdia sempre de maneira silenciosa e compassiva; o homem, não! fala como quem fuxica e a todos revela, sem nenhuma misericórdia, os graves erros da alma que, ao invés de acolhida, é a platéia lançada completamente despida de sua própria dignidade e do amor daqueles que, sabedores de seus possíveis delitos, fazem desse momento não libertador um instrumento de sofrimento e suplício.
Talvez seja por isso que nosso amado irmão Paulo disse preferir não saber nada a não ser o Cristo. Mas por saber o Cristo, soube a maior grandeza que foi ao homem revelada: o amor que cobre como manto a alma que precisa, para no lugar do desprezo e acusações, ser apenas amada.


Glauco Kaizer

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