segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Não a tentação do passarinheiro


Estávamos todos numa gaiola, obrigados a cantar a melodia do cárcere; a melodia daqueles que cantam sua prisão à lembrança da liberdade que um dia possuíram. Isso faz lembrar um texto do salmos em que os judeus foram solicitados a cantarem o cântico de Sião em meio ao exílio que estavam enfrentando. Eles chegam a dizer:"como cantaremos nossas canções fora da terra de nossa liberdade?...". Também faz lembrar uma pequena frase de um poema de Machado de Assis, no qual ele afirma que o mais triste de um pássaro na gaiola é que, ao cantar, parece estar feliz. Mas não existe boa gaiola. Todas as gaiolas são tristes porque elas lembram a liberdade que foi impedida. A beleza do canto dos pássaros está não apenas no canto, mas na liberdade daquele pássaro que, tomando para si os píncaros dos céus e depois pousa para cantar as alturas que experimentou.
Cristo não libertou apenas os pássaros(nós), mas levou também a gaiola, que fez questão de destruir para que não fosse usada mais como aquele instrumento de suplício disfarçado de algo belo, mas que de belo não possui nada. E assim, ele solta os pássaros à vida - e vida em abundância - para que cantem as altas melodias, aquelas descobertas em seus altos voos. Contudo, infelizmente há aqueles que ainda gostam de construir gaiolas. Os passarinheiros que insistem no engano de que na gaiola os pássaros estão seguros das ameaças da vida. Com isso, esses marcham contra a mensagem do evangelho da liberdade e da liberdade do evangelho. Todavia, ainda temos o Cristo que não nos deixará cair no laço, ou mehor, na gaiola do passarinheiro e que continua, a despeito de todo esforço religioso em construir boas "gaiolas", quebrando todas as varetas que compõe aquela câmara de tortura. "Deus criou os pássaros; já os homens inventaram as gaiolas" (Rubem Alves). Essa constitui uma tentação inerente ao humano:a de querer se tornar um passarinheiro e tentar prender os outros nas gaiolas de seus desejos e vontades. Assim aprendemos que a melhor proteção não é restringir a liberdade, mas garantir à mesma pelo amor de ver o outro cantando suas canções para fora da gaiola.


Glauco Kaizer

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui sua opinião e/ou dúvidas.