segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Sagrado na prateleira

Somos parte e continuação do projeto humano que vê a possibilidade de todos termos um lugar ao sol. De vivermos uma vida folgada e cheia de regalos, sobretudo daqueles que são massivamente inoculados no poço de desejos que é o humano. Desejos esses que, na maioria dos casos, extrapolam a categoria da necessidade direta e se enveredam pelo caudaloso rio da efemeridade. Essa, por sua vez, se deve a todo universo midiático aplicado exclusivamente e exaustivamente não apenas em vender seus produtos, mas, precipuamente, criar consumidores em potencial, sempre dispostos a consumir aquilo que sequer precisam.
Os efeitos são terríveis e não podem ser contestados: competições predatórias, urgência do já, fragmentação da existência, desejo ilimitado de consumo etc. Contudo, para a religião o quadro é bem pior. Quando uma religião se debruça sobre esse poço dos desejos, lançando suas moedas-orações, transformam o sagrado em objeto de consumo e Deus no agente particular de seus milagres forjados, desconhecendo o que seja imperioso para uma verdadeira vida cristã. E na carta dos milagres forjados, marcada por preços altíssimos, sobretudo quando se leva em conta que o que importa é o consumo do sagrado e não a relação filial e desinteressada.
Não é à toa que, passados os dias, se confunde cada vez mais fé com consumo e menos com o seguimento a Jesus Cristo. E nessa ciranda do "meu tudo" e "nosso nada", fica cada vez mais difícil o nós como partilha, criando cada qual seu projeto egoistinha de reininho do meu umbigo, quase sempre, e estelionatariamente, confundido com o Reino de Deus.
Glauco Kaizer

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