sábado, 3 de outubro de 2009

O aconselhador Pastoral


Recorrendo à perspectiva semiótica, diria que o aconselhador é um parteiro. Ele não gera a vida que está diante de si; não tem acesso a essas ordens primárias da existência. Contudo pode ajudar, ser o facilitador para que esse parto espiritual se concretize. Para tanto ele deve buscar desenvolver a arte do encontro. Deve tomar a imagem arquetípica do hospedeiro descrita no salmo 23: a hospitalidade que revela a essencialidade dessa dimensão solidária, que por sua vez é o alicerce das relações humanas. No entanto, a hospitalidade também revela um mínimo espiritual, que é a capacidade de acolher, de sermos solidários, cooperativos e capazes de conviver, sobretudo, com os diferentes.
Mas não para por aí. Como na metáfora do hospedeiro, ele deve preparar a mesa para o hospede. Ato comensal este que reforça os laços de mútua confiança e comunhão. O sentar-se à mesa traz a tona a dimensão da igualdade e da concórdia. Todas as contradições, preconceitos, ou qualquer outro motivo para o não congraçamento, são inibidos e apagados quando dividimos o pão da presença do outro. O aconselhador senta-se à mesa com o outro, como quem não dá a mínima às tentações do preconceito. Ele não orça diferenças, mas acolhe gentilmente.
Enfim, acho ser o desejo de todo aconselhando encontrar diante de si, num momento de busca ou de intempéries vividas, uma figura que não sente à mesa como representante de uma religião ou instituição qualquer, mas que divida e receba sensibilidade e presença. Alguém que, para além da tentação de apontar o caminho, divida a radicalidade da caminhada e por isso torne sagrado esse encontro; alguém que, como aponta Nilton Bonder, não venha com seus manuais ou esqueminhas, mas que, no entanto, reconheça-se nos anseios e preocupações que o outro trás em si. E por isso construam juntos a caminhada da individuação; do florescer de si mesmo na órbita da verdadeira cordialidade e comunhão - a koinonia.


Glauco Kaizer

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