Doce é voz que nos encoraja a ir
fundo dentro de nós mesmos. Que nos aguça à descoberta de uma intuição que nos
inquieta faz tempo, de um desejo de “um quê” que nossas palavras ainda não
deram conta de expressar, mas que, de alguma maneira, de alguma forma,
experimentamos com uma profundidade indizível, e como diria Paulo, entranhável.
Lá dentro... lá no fundo...não encontramos uma construção substantiva e
objetivada do “eu”, mas nos deparamos com aquele que, sem dúvida, é seu
fundamento último, mais definitivo, e deveras convincente de sua verdade mais
primigênia. Presente no quadro que ornamenta nossa dimensão mais guardada,
nossa verdade mais profunda, encontramos Aquele que é o totalmente outro, mas
que, como expressão de um mistério que ainda demoraremos tempo para aprofundar,
se revela como o mais íntimo que nossa própria intimidade; mais real que nossa
própria realidade; mais existente que nossa própria existência.
Da voz ouvida e seguida mar adentro
de nossa intimidade, que não sem conflitos e contradições atenta ouvi-la e não
perdê-la, encontramos aquele que fala, do qual a voz ressoa sem palavra e de
cuja face enxergamos mesmo sem vê-la. Como um brilho que reluz nos olhos e
reflui para dentro, a voz guia nos dá pistas e consciência desse existir Supremo, do qual todo existir recebe-se como presente durante os dias do seu
aparecimento. Em nossa respiração respira, em nossa meditação medita, sempre
quando, e em face da voz seguida, descobrimos que não somos sozinhos, mas que,
acompanhados, cuidados e assistidos, continuamos sempre sendo. E mesmo quando
do fato dessa realidade ainda encravada e escondida dentro de nós, em nada Ela
sai desmerecida ou desprezada, pois sua humildade e simplicidade não se enganam
a respeito da realidade de seu sustento, que segue sendo sem platéia, aplausos
ou reconhecimento.
Glauco Kaizer
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