domingo, 1 de janeiro de 2012

O que é ser abeçoado?

Para o comércio em geral, o balanço das vendas realizadas no final do ano teve um impacto muito positivo. Mais uma vez, os eletrônicos dominaram a lista de vendas, consumindo boa parte da renda dos brasileiros já para 2012. Isso me fez lembrar um trecho do livro do sociólogo Zigmunt Bauman, Vida para o consumo, que diz o seguinte: o pobre é forçado a uma situação na qual tem de gastar o pouco dinheiro que dispõe com objetos de consumo sem sentido, e não com suas necessidades básicas, para evitar a total humilhação social e evitar a perspectiva de ser provocado e ridicularizado, mesmo que seja por ele mesmo (acréscimo meu). Essa vocação consumista, com a qual passamos a conviver desde os primeiros anos nos quais aprendemos dizer "dá", é produzida e reproduzida massivamente pelos canais midiáticos, que não possuem outro interesse senão o de nos transformar em consumidores em potencial, seja lá qual for a mercadoria oferecida. Os apelos e a inoculação do veneno do consumo, baseados e amoldados ao culto do prazer, desenvolveu um novo tipo de pertença social. Consumir, portanto, representa fazer parte dessa sociedade consumista, representa a ditadura do consumo elevada ao ideal de pertença social.
O veneno é tão forte e seu poder de irradiação tão abrangente, que o religioso presta reverência à logica do consumo-libertação. Nesse sentido, quem possui um grande poder para o consumo, que podemos representá-lo como aquisição de bens e servições, é aquele a quem Deus abençoa; os demais, a grande maioria das pessoas, são pecadores que precisam de algum tipo de libertação e só depois disso é que poderão consumir os bens divinos, travestidos pelas riquezas terrestres. E pior, isso só ocorrerá após esses pobres terem entregues seus Isaques. 
Falo isso porque outro dia fui surpreendido por essa fala, vindo de uma irmã que dizia se sentir inferiorizada com esse discurso que, no mínimo, soa como um grotesco preconceito social: ser pobre é sinal de que não é abençoado. Nesse caso toda pessoa seria um consumidor de benção e toda benção uma mercadoria a ser consumida. E quem não consome benção, por sua vez não é abençoado. Não precisa muito para perceber que essa maneira de enxergar a relação com Deus representa o esvaziamento  e o empobrecimento do evangelho e do seu significado para as pessoas, em especial as pessoas simples, os pobres que, ao ouvir esse discurso, passam a ter vergonha de si mesmas e de sua situação social.
O ano só está começando e podemos dizer outras coisas em nossos púlpitos. Ao invés de envergonhar a maioria das pessoas presentes com essa falazinha burguesa e de um capitalismo sem coração e também sem fé, podemos lembrá-las de que delas (nós) é o Reino do Céus e que, segundo Jesus Cristo, já está entre nós.

Glauco Kaizer

Um comentário:

  1. Diante de toda premissa apresentada certo é que diversas instituições religiosas, diga-se igrejas evangélicas, resolveram adotar um discurso capitalista camuflado por versículos biblicos visando respaldar aquilo que quiça seja a maior segregação do corpo espiritual evangelico de todos os tempos. Posto isto e com muito pesar que percebemos que diversas instituiçoes usam o pouco da credibilidade que ainda gozam e a uitilizam de forma odiosa levando grande parte do povo evangelico a praticarem coisas que nao os levam ao coração de DEUS, invertendo e priorizando valores aos quais Jesus nunca os praticou. Vale ressaltar que Jesus foi um homem simples e disprovido de riquezas materiais e que em suas pregações jamais formulou ou pririzou o enriquecimento pessoal como tem sido feito pela maioria dos lideres evangelicos. O debate e muito mais profundo e complexo do qe se possa imginar, por isso, concluo de forma critica minha indignação e revolta em face destes lideres que estao colaborando para um verdadeiro massacre do povo evangelico levando a grande maioria a tomarem respaldo no que dizem, grandes inverdades, posicionando-se de forma equivocada em relação ao verdcadeiro evangelio de jesus cristo.

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