quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

POR UM "PAI NOSSO" MAIS PROFUNDO

Não há muito que dizer num momento desses. Há apenas essa sensação de perda para todos nós; uma dor que irradia e se avizinha por todo Brasil, como se as vidas que se perderam fossem pessoas de nosso círculo de parentes ou de amigos mais íntimos. Mas na verdade são. São filhos do mesmo Pai... aquele que invocamos no Pai Nosso, que dividiram, enquanto estiveram conosco, a esperança do mesmo Reino; que compartilharam a providência do mesmo pão; que sonhavam com o perdão libertador/reconciliador; que desejavam longe toda e qualquer forma de mal que pudesse assolar suas vidas, fosse o mal moral, fruto de uma liberdade mal direcionada; fosse o mal natural, aquele que se encontra no limite de uma existência e de um mundo finitos. Não compreender a profundidade e as implicações dessa reza/oração mostraria a quanto tempo estamos apenas papagaiando-a, pois além de nos situar numa nova relação com Deus, agora denominado pelo vocativo "papaizinho", ela também revela a qualidade de uma nova relação que devemos viver entre nós: uma irmandade.
Por isso não só as famílias das regiões atingidas estão de luto. Diante dessa tragédia, toda comunidade mundial deve enlutar-se, pois irmãos e irmãs que a distância não nos permitiu conhecer partiram abruptamente. A todos eles o respeito de nosso luto, como enlutado se encontra também o nosso Pai, que os criou para a vida e vida em abundância. Contudo, ainda há irmãos pelos quais podemos fazer alguma coisa. Aqueles se encontram desalojados e necessitados de tudo e principalmente de serem acolhidos pela força de nossa solidariedade. A solidariedade é isso. É sinal dessa pertença familiar constituída na oração do Pai Nosso. Por isso mesmo, quando agimos movidos por essa solidariedade, agimos na força dessa fraternidade constituinte do mais íntimo de cada um de nós e que, nesses momentos trágicos da vida, lembrando dos irmãos, ao mesmo tempo lembramos dessa filiação a qual todos, pela graça da adoção, pertencemos: somos todos filhos do Pai.
Façamos novamente essa oração tão conhecida no mundo todo. Mas a façamos de uma maneira mais pragmática, mais concreta. Oremos compartilhando o pão que o Pai já enviou a nós, agora interpretado como mantimentos, roupas, colchões, água, material para a higiene, limpeza etc. Certamente essa terá sido a maneira mais concreta e mais sincera que essa oração já fora orada, de vez que a melhor oração é amar. E nessa forma de orar/rezar, na cooperação possível por nossa solidariedade, oramos todos juntos, nós e o Pai, consolando e socorrendo nossos irmãos e irmãs que foram tragados por essa tragédia. E nisso se realiza a resposta tão esperada por quem ora a oração do Pai Nosso: quando socorremos os Irmãos Nossos que estão na Terra.

Glauco Kaizer

Um comentário:

  1. Mano Glauco, conheci teu blog através do Vandré (http://bloglatadoida.blogspot.com/) e gostei muito. Parabéns por esse texto! Infelizmente, é muito difícil vermos em nossa cultura a junção de religiosidade(e porque não dizer política?) com humanismo; isso explica o fiasco dessas instituições e os incidentes na região serrana não deixam dúvida que o descaso político-religioso é a maior degradação(ópio) do povo. Desculpe minha severidade, mas é que já senti na alma as dores de um Jó pós-moderno; no entanto, sei relativizar minha crítica e considerar os verdadeiros e bons samaritanos. Também desabafei sobre essa tragédia em meu blog: http://asvozesdomar.blogspot.com/2011/01/desastres-de-chuva.html

    Abç!

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