terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sai para fora

Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto (trecho do mito da caverna, de Platão). E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora (Jo 11,43).
O messianismo de Jesus se funda e se justifica em virtude de um axioma: o grito dos pobres e dos excluídos. E esse grito emerge de uma situação dialética - contradição opressores-oprimidos. Além disso, esse grito é também sinal. Nele estão reunidos todos os sofrimentos, todas as dores e todas as angústias experimentadas por um povo.
O grito não é palavra. É um som penetrante, voluntário e espontâneo, articulado ou não, e emitido com força. Jesus ouve esse grito. Na verdade, esse grito penetra em Jesus de tal maneira que ele faz de sua existência um compromisso para a libertação dessas pessoas. Tanto opressores quanto oprimidos (ambos encontram-se desumanizados). Estes, prioritariamente, tendo em vista a situação de fracasso e opressão nas quais se encontram.
Esse grito só pode de fato ser ouvido por Jesus porque seus ouvidos não estavam configurados pelos os das instituições de seu tempo, que fingiam surdez aguda.
Pensamos as vezes que a caverna, assim como Elias pensou e Platão metaforizou, é tudo o que temos. Só que isso não é verdade. Nos esquecemos que fomos chamados para fora. Não um chamado que pressuponha abandono, mas que nos convida a ver e ouvir um mundo de coisas que que nos cercam, esperando de nós e por nossa contribuição no processo de sua remissão. Daí então não só se vão as escamas dos olhos, mas também a surdez do ouvido, que insistia em negligenciar os gritos aflitos daqueles que estão clamando por socorro.
A caverna nos coloca inicialmente em contato conosco mesmo e com os medos profundos do nosso coração. Mas sair para fora , desculpe o pleonasmo, significa a compreensão universal do chamado salvífico. O sair não para assumir apenas a si mesmo, mas para correr em direção do lugar de onde vem os gritos.
Seja na ressurreição de Lázaro ou na tomada de consciência de um mundo para além das cercanias da nossa compreensão, e apesar de anos como habitantes de cavernas, o fato é que os gritos não param e nós insistimos em criar cada vez mais cavernas para nos esconder do inevitável: FOMOS CHAMADOS PARA FORA!

Um comentário:

  1. Oi, Glauco,
    trazendo pra nossa vida essa frase:
    A caverna nos coloca inicialmente em contato conosco mesmo.
    A caverna nos remete à solidão de fato.
    Mas hoje penso no quanto precisamos de uma pausa espiritual, pra refletirmos sobre nossas atitudes e repensar futuras ações.
    O Cristo nos convida à messe, e fazemos de conta que não ouvimos. Nisso, os que aceitam este chamado tornam-se Anunciadores cansados e bem pouco atrativos a abrir-se para essa opção de vida.
    Hoje, eu iria pra esta caverna, mas sairia em breve. Seria uma pausa pra renovar.
    Paz e bem. Boa semana.
    Priscila Martins

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