quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Do culto alienante ao culto da vida

Estamos diante do ponto mais candente dos embates de Jesus com as forças heterônomas de seu tempo: o templo e o culto. Antes de entrarmos nesse ponto nevrálgico, devemos entender a função do templo.Segundo Jon Dominc Crossan:O templo mediava não apenas a presença de Deus, mas também seu perdão. Era o único local de sacrifício – que é o caminho do perdão. Segundo a teologia do templo, alguns pecados só poderiam ser perdoados e algumas impurezas só poderiam ser tratadas através do sacrifício neste lugar.[...] o templo mediava o acesso a Deus. Estar no templo, purificado e perdoado, era estar na presença dele.Como era de se esperar, milhares de pessoas confluíam para o templo pelo menos uma vez por ano para o ritual dos sacrifícios. Era o centro de devoção de todo povo. O coração religioso da nação Israelita. Entretanto, o templo se tornou motivo de exploração e seu culto se torna alienante.Estavam ligados ao templo, segundo Rinaldo Fabris:... grupos ou classe sacerdotais e, em particular, as grandes famílias de Jerusalém, sacerdotais ou leigas, cujo o prestígio social e fortuna estavam vinculados a função religiosa do tempo.O culto era o grande eixo econômico para a cidade de Jerusalém. Pelo menos dois dízimos eram entregues nesta casa. Um de cunho obrigatório, e o outro que o religioso devia gastar em Jerusalém. Era proibido gastar esse último dízimo noutro lugar que não a cidade de Jerusalém. Havia o interesse direto da aristocracia judaica, já que esta vivia e engordava a custa da exploração religiosa e a miséria do povo.Jesus, porém, se coloca contra esse estratagema absurdo. A tradição sinótica cita dois grandes momentos de conflito entre Jesus e templo, em função desse culto idolátrico. Em um deles Jesus expulsa os cambistas – um templo instrumentalizado para a cobertura e álibi religioso da injustiça (Mc 11, 15); em outro ele anuncia profeticamente a destruição do templo (Mc 13, 2).Como os profetas no passado, Jesus denuncia o culto deturpado e corrompido, que pensa que pode manobrar a Deus, substituindo a entrega real a ele por meio de ações que almejam assegurar o seu favor.Jesus muda o conceito de culto. Se prestar culto a Deus significa honrá-lo, o que honra a Deus não é a submissão do homem, senão a semelhança do homem com ele, como a do filho do Pai.Trocando em miúdos, o que Deus quer é um culto que transborde em todas as direções e não apenas um evento com dia e hora marcados. Tornar-se semelhante, nesta perspectiva, significa entregar-se ao dinamismo de amor, uma vez que Deus é amor. Se doar para buscar o bem que a todos atinja, esse é o grande culto. Além disso, a prática desse culto não reclama um espaço sagrado. Ele se realiza na vida, ininterruptamente. Vida animada pelo amor: esse é o culto.
Glauco Kaizer

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