segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ser ou não ser?



Muitos passam sua existência toda tentando “ser alguém na vida”. E não me refiro aqui a busca em realizar-se profissionalmente, academicamente, entre tantas coisas. Falo daquela busca voltada à identidade pela qual queremos ser conhecidos, ou pelo menos desejamos ser. Trata-se daquele recorte social, da persona pela qual cada um de nós se esforça para ser lembrado. No entanto, o perigo é que tal prática, em muitos casos, sombreia a verdade contraditória que precisa ser enfrentada, vencida, ou pelo menos controlada. Essas personas criam um encantamento que, cedo ou tarde, trará constrangimento àquele que assim se comporta, de vez que diz ser alguém que na verdade não é.
Jesus, num episódio muito conhecido, volta-se para uma figueira com a finalidade de comer do seu fruto. Contudo, o texto narra que não era época de figos. Os frutos da figueira apareciam antes da figueira cobrir-se de folhas, para só depois ficar coberta de folhagens. As demais figueiras, por sua vez, estavam completamente sem folhas. No entanto, vendo Jesus que uma figueira encontrava-se frondosa, estando faminto, enfiou a mão por dentro dela a procura de um figo, mas, infelizmente, não encontrou. A resposta foi direta: nunca mais ninguém coma de ti. A figueira secou e os discípulos ficaram perplexos com tal autoridade.
Não se trata aqui de ressaltar ou discutir o veredito contido nesse testemunho bíblico. Mas, num mundo em que as aparências valem mais do que a verdade interior que as pessoas trazem, muitos achariam melhor uma figueira verdinha, entretanto, sem frutos, a várias figueiras sem folhas, esperando o tempo certo de produzir seus rebentos. Entretanto, o evangelho alerta ao perigo das aparências. Além disso, o evangelho cria suas bases no paradoxo: quem deseja salvar sua vida perdê-la-a; quem quiser ser o maior, seja o que mais sirva; quando se pensa fraco é que se está forte; e daí por diante.
A figueira que desejou estar sempre verde, mesmo não tendo frutos para oferecer - uma figueira ornamental - acabou tornando-se seca definitivamente. E aquelas outras que estavam na entressafra, tempo de recuperarem o vigor para mais uma colheita, puderam, em sua estação própria, colocar para fora seus frutos e alimentar a muitos. Enfim, aquele que diz “dou”, não dá! porque quem da mesmo não diz; aquele que diz “sou”, não é! porque quem é mesmo é “não sou”. (Vinícius de Moraes)
Cuidado com a tentação das aparências! Assumir a ambiguidade é o primeiro passo na busca da verdade de si mesmo.
Glauco Kaizer

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