quinta-feira, 1 de setembro de 2011

De vez em quando somos Tomé


Somos todos certezas e dúvidas. Não há quem nunca duvidou de algo, como também não há aquele que nunca gozou de certeza alguma. Momentos houve que tivemos certezas de nossas dúvidas e até mesmo duvidamos de nossas certezas. Andamos no fio da navalha como quem anda por uma estrada larga e, por isso, tem em conta os pés folgados. E é aqui que percebemos que nossas dúvidas são, na verdade, a falta de controle, seja ele literal ou psicológico, sobre determinados momentos e situações. Daí então resulta não encararmos com demasiado escândalo aquele que pede contas até mesmo a Deus, de seus temores duvidosos, de suas esperanças desesperançadas em virtude do calor do tormento. Esse não é o nosso grande problema. É apenas um grito de um gesto sem artifícios e até mesmo sem pudor, em face daqueles que porventura estejam perto, que pede ajuda através da dúvida, como quem diz: quero de verdade ter certeza. Isso! A boa e verdadeira dúvida só quer conhecer e nada mais. Não se trata de desconstruir aquilo ou aquele a quem se pergunta: És tu mesmo?, e que no fundo só o queria que fosse.
É o senhor mesmo, Jesus?, perguntou Tomé. Sim, Tomé. Sou eu! – disse Jesus. Uma mescla de certeza e dúvida pululam a mente e o coração de Tomé. O coração diz: eu senti, é ele mesmo. Não vês a doçura desse olhar? A mente retruca: não te lembras do seu corpo sem vida sobre o madeiro e depois de seu repouso último naquela cova fria? Tomé decide então ir para além das afirmações que seu coração e mente lhes fizera. Ele pede: se és tu mesmo, deixa eu tocar nas suas chagas. E assim foi. Tomé tocou-lhe as chagas e teve a certeza de sua dúvida. Era o mesmo que morreu e que agora aparecera vivo. E a despeito da adjetivação... homem de pouca fé, que precisa ficar claro, não foi dito carregado de desdém ou desprezo, pois a atitude seguinte desmente a impressão, o mestre não lhe subtrai essa conferência. Ele da as chagas à prova como quem sabe que aquele momento era necessário para seu querido Tomé.
Abrindo um pequeno parêntese, Jesus nunca disse a ninguém: homem de muita fé. Quando muito ressaltou a singularidade da fé de um ou de outro que, diga-se de passagem, não eram de pessoas ligadas à fé judaica.
Tomé só deixou vazar a dúvida que todos tinham. Não estavam todos encolhidos e escondidos? Algum deles chegou de braços dados com o mestre dizendo: __viu ele está vivo? A coragem de Tomé foi a mesma de Pedro, que pediu para andar sobre as águas e, por naufragar, foi chamado de homem de pouca fé, apesar de todo o resto dos discípulos estarem cheios de fé entocados dentro de um barco chicoteado pelo vento.
Melhor um Tomé com coragem de assumir sua dúvida do que o monte de homens cheios de uma certeza embrulhada e tímida. Não serve a nada. Dentre aquele monte de discípulos, o único adjetivado de “homem de pequena fé” é o que toca o mestre depois da ressurreição, coisa que ninguém mais fez.
Equívoco mesmo é deixar a dúvida ser para sempre dúvida. 

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