segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um novo critério II

Da discriminação ao aceite


Outra norma funesta que Jesus trata de desautorizar dizia respeito à discriminação. Esta se fundava na proibição baseada nos contatos que tornavam ritualmente impuro (Lv 11, 1-47). Todavia Jesus novamente supera e rompe com essas barreiras. Ele se deixa tocar pelo leproso, não reproduz essa conduta carregada de preconceito. Ele chega a tocá-lo. E quando o cura revela translucidamente que Deus não deseja a marginalização dessas pessoas (Mc. 1,39-45). Esta atitude de Jesus devolve a esse homem a dignidade de sentir-se novamente humano. De uma figura petrificada pela discriminação social, segregado pela indiferença até mesmo de sua família, passa a respirar o ar da vida, sentido-se amado e acolhido. Esse era o sentido pleno de sua cura: a solidariedade do acolhimento. Efetivamente Jesus ensina a romper as barreiras que uma sociedade, por motivos ético-religiosos, sociais e políticos, levanta entre grupos humanos.
Esse tipo de norma estava incrustada na consciência coletiva judaica. Todo judeu aprendia desde muito cedo a acreditar que esses ditames eram o desígnio absoluto de deus e que, em tais casos, deviam ser cumpridos cabalmente. As instituições judaicas, ontologicamente reconhecidas, se encarregavam de sedimentar esses preceitos que se tornaram o motivo da marginalização e da discriminação. Jesus, contudo, os revela que essas normas podem ser reinterpretadas e reconfiguradas de maneira que o amor e a solidariedade não sejam soterrados pela letra da lei.
Glauco Kaizer

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