segunda-feira, 21 de setembro de 2009

De que espírito sois?


Tudo o que é, o é, sem na verdade dizer-se ser. Quem despreza, despreza porque acredita no desprezo como método punitivo ou como tortura psicológica; que humilha acredita na humilhação como uma aplicação legítima e lícita de acordo com seu julgamento; quem desdenha acredita no desdém porque julga sua cultura ou tradição como reconhecidamente superior a...; quem mata, o faz na crença da violência como caminho de autodefesa, reparação de agravo, ou por crueldade apenas; quem tortura, seja ela física ou mental, o realiza com a crença de que daquela maneira obterá o desejado, revelando dessa maneira toda sordidez que a pessoa humana pode praticar; quem usa armas contra as quais não se tem defesa, o faz porque acredita na destruição como prática de profunda licitude para legitimar-se; quem anima à discórdia, o faz como agente franco e asseverador da anti-paz; quem desconstrói a imagem moral e a reputação de seu semelhante, aquele que devia ser alvo de seu amor e compreensão, o faz não para defender uma causa nobre, mas para defender a causa de si mesmo e de sua mesquinhez; quem faz e comete vingança, o faz porque acredita na guerra como um caminho para algo; quem transpassa uma espada aguda naquele que não possui nem como se defender, revela toda crueldade que traz acalentada dentro de si e testemunha conta si mesmo e contra o amor que diz possuir em seu ser.
No que fazemos e na intensidade com a qual fazemos somos revelados como realmente somos. E quem acredita em qualquer um destes métodos, mesmo alegando motivos nobres, apesar de não haver nobreza em nada disso, só destruição e sofrimento, na verdade não acredita e nem conhece a Jesus e ao Pai de Jesus. Se acham tão confusos e equivocados quanto Tiago e João, que ousaram sugerir a Jesus a morte brutal dos samaritanos (Lc 9.54). Jesus os adverte: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las.
Se não podemos, a exemplo do carpinteiro de Nazaré, amar e tolerar aqueles que nos ofendem e afrontam, não somos dignos de Seu nome sobre nós. Se persiste em nós o rigor da violência e da intolerância, que tão recorrentemente armam nossas mãos e principalmente nossas bocas, desconhecemos o Deus de Jesus e temos por deus belial.
No entanto, há aqueles que oferecem a não violência ao ataque ou agravo sofrido. Estes não alimentam o já caudaloso rio dos insultos e dos ultrajes. Pelo contrário, a despeito de todo mal experimentado, oferecem a mão da concórdia como apelo latente a uma vida de paz e dizem não a existência belicosa. Porque nossa luta não é contra a carne ou contra o sangue (Efésios 6.2). Mas, pela fraqueza no conhecer a própria fé, ou mesmo no completo desvio desta, há quem ainda prefira uma boa briga contra os de carne e de sangue; e ainda há outros que fazem isso em nome Deus, desconhecendo, infelizmente, de que espírito são.
Existem aqueles que aceitam morrer por Cristo. Contudo, há aqueles que temem morrer por Cristo, mas, no uso indevido e estelionatário de Seu nome, estão prontos a matar pelo mesmo Cristo que só pede o seu morrer para a ressurreição da vida.

Que aprendamos a não preterir ou preferir nem bons ou mal samaritanos, mas simplesmente a amá-los como sendo samaritanos, não lhes negando, em hipótese alguma, o direito à vida.
Glauco Kaizer

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