domingo, 24 de abril de 2011

Um Jesus culpado

A semana santa, em especial a sexta-feira da Paixão, é o período que todos choramos a morte de cruz sofrida por Jesus. Em nossa reflexão analítica a respeito de tal morte, consideramos que Jesus era completamente inocente e que não merecia tal castigo. Que ninguém mereça tal sorte, sobretudo quando sublinhamos as duras torturas narradas nos evangelhos, é realmente verdade. Todavia, em que aspecto sugerimos a inocência de Jesus?

Inocentá-lo à revelia constitui-se num grave erro. Se fizermos uma leitura com o mínimo de cuidado perceberemos que Jesus é bem culpado de tudo o que fez. Considerá-lo inocente e ingênuo em seu caminhar histórico é o mesmo que dizer que cada uma de suas opções foram tomadas sem levar em conta suas conseqüências, ou seja, que Jesus era um leviano. E esse não é o fato. Ele sabia o que estava fazendo e que, doravante suas ações, viria chumbo grosso pela frente (Mc 10,31).

Ele é culpado de:

· Preservar a vida em detrimento da Lei;

· Colocar as pessoas na frente das coisas;

· Não respeitar a divisão de castas que havia;

· De amar a vida de uma prostituta;

· De apresentar um Deus que destoa do apresentado pela religião oficial;

· Denunciar a infertilidade da religião judaica;

· Denunciar o sistema de dominação por traz dessa religião em acordo com o governo romano;

· De alimentar a esperança de um povo em relação a si mesmo e em sua relação com seu Deus;

· De solidarizar-se com os indesejáveis e os banidos econômica, religiosa, política e socialmente;

· de seu próprio amor, que não o permitia outra coisa senão amar;

· da liberdade que gozava e pela liberdade que apregoava;

· sonhar um reino em que esses elementos trágicos não mais existiriam e que todos seriam iguais e verdadeiramente irmãos;

· sua coragem e ousadia de ver no outro a misteriosidade da presença do divino e de não ver divino onde mais as pessoas o procuravam;

Enquanto acharmos Jesus inocente, seremos completamente incapazes de segui-lo em sua radicalidade e desprendimento. Esse é o grande veneno de nossa reflexão a respeito de sua morte. No entanto, considerá-lo como culpado é o antídoto a nossa total e completa ataraxia (completa indiferença).

Que em nome de Deus todos nós sejamos tão culpados quanto Jesus o foi. Amém.


Glauco Kaizer

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