terça-feira, 8 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher – Lembrar também é homenagear

A imagem feminina é valorada e concebida de inúmeras maneiras em todo mundo. Em algumas culturas a mulher representa apenas um instrumento de reprodução que possibilita a hegemonia masculina, com valor consignado a essa capacidade reprodutiva; em outras ela revestida de centralidade, ocupando lugar de grande importância na liderança da família ou do clã. Há ainda aquelas que se destacam no campo político, como nossa primeira presidenta, Dilma Rousseff, que prefere ser chamada assim para fazer homenagem a todas as mulheres brasileiras. Mas seria uma grande insensibilidade de nossa parte não lembrarmos de uma mulher que representa uma imagem arquetípica que ainda persiste em conviver conosco, apesar de já termos entrado no século XXI, o que deveria representar certo avanço na evolução das relações de gênero.

Lembremos, portanto, Sakineh Mohammadie Ashtiani, sentenciada à morte sob a acusação de adultério. Seu caso ocupou as grandes manchetes de jornais e telejornais e atingiu em cheio a opinião pública de todo mundo. Mas como notícia velha não dá IBOPE e não vende jornais, o drama de Sakineh saiu de cena de tal maneira que, mergulhados na folia, nenhum grande jornal do Brasil publicou qualquer nota que fosse a respeito do seu caso, sobretudo nesse dia emblemático para todas as mulheres do planeta e sua luta por direitos sociais fundamentais.

A imagem de Sakineh é arquetípica porque representa uma maneira anacrônica de se ligar com casos de adultério e que ainda pode ser encontrada em todo mundo. No Irã essa prática representa ainda uma funesta ligação com um passado religioso que já devia, há muito, ter sido atualizado, mas que o Estado, pressionado por lideranças religiosas, ainda presta reverência, atentando contra tudo aquilo que representa a garantia de valores genuinamente humanos. Entendemos que essa prática representou um momento do devir de um povo em sua evolução histórico-cultural, mas é intolerável que isto ainda ocorra diante da nova sensibilidade cultural que se difunde cada dia mais no oriente. Além do mais, nenhuma norma religiosa tem o direito de atentar contra vida de quem quer que seja, sobretudo porque a vida é um valor absoluto defendido pelas religiões do livro.

Prestamos nossa homenagem como lembrança de casos como esse, das Sakinehs às Marias da Penha do Brasil e do Mundo, que ainda experimentam o pior da natureza “humana”. A todas elas nossa solidariedade, nosso respeito, principalmente quando este é traduzido por nossa recordação, em face de um esquecimento que, no caso de Sakineh, pode ser mortal.


Glauco Kaizer

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